Reza a lenda de que, o estupro, até outra hora "conjunção carnal entre homem e mulher não consentida", dada a evolução natural da sociedade, passou a ser qualquer ato libidinoso contra vontade de uma das partes envolvidas, que a humilhe, que a escarneça, que de qualquer forma de aproveite dá vulnerabilidade da vítima, sexual, no caso.
Tenho lido notícias demais falando de estupro coletivo, e nesse ponto, à cada dia cresce minha indignação... "Até quando, meu Deus? Até quando?".
O crime, obviamente, assusta, choca, enoja, amedronta toda uma sociedade: minorias que são vítimas frequentes, familiares de vítimas em potencial... enfim, é o caos.
Estupro é uma palavra bem pesada...
Ninguém quer falar de estupro.
E quando paira no ar a sensação de que essa violação nociva, traumatizante, não consentida, invasiva, acachapante, existe fora do contexto sexual? É exagerado falar em estupro?
Inescrupuloso?
Eu ando pensando que não; que assim como um palavrão vira advérbio de intensidade, uma metáfora pesada assim, serve pra trazer aos demais o tamanho incômodo que certos comportamentos morais me trazem, tenham eles acontecido à mim, pessoalmente, ou a qualquer dos meus.
Há um velho ditado... "Quem muito se abaixa, mostra seus fundilhos". Há casos em que as pessoas tanto se abaixam, pelos motivos mais diferentes, tamanho estado de vulnerabilidade que vivem diante de determinadas situações e pessoas, que são violentadas sem darem-se conta, que entendem o comportamento habitual, aceito meramente por repetição.
Há também as que se incomodam... Mas tem medo das represálias que a denúncia traz eventualmente. Tem aqueles que não consideram o estupro real... Que dizem se tratar de exagero de quem vê, e limpam a cena do crime, pra evitar o que temem, o que acreditam que deva ser melhor ser evitado, sem qualquer noção de distância de suas suspeitas e da realidade.
Torço, incansável e intensamente, prender os estupradores em qualquer uma dessas nossas cadeias superlotadas... (Sistema prisional falido, ninguém tem espaço, quanto mais para se regenerar, infelizmente). E assisto aos mais diversos estupros morais, coletivos ou não, de incapazes ou não, e até de falsas vítimas - aquelas que são cúmplices do sadismo que a prática traz, mas não querem "se envolver" pessoalmente com o crime, ou com o castigo.
De longe, da minha cadeira cativa na delegacia mais próxima, estou só observando, e torcendo por uma noite de anarquia verborrágica, para fazer justiça com meu próprio sorriso debochado.
Sou de pouco rancor.
Mas é bom lembrar, sou humana.
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