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27 de outubro de 2007

Dona Felicidade

Num desses meus dias de pensar demais nas mais variadas coisas, encontrei vontades escondidas, pensamentos amalucados e infantis.
Tive um daqueles surtos de saudosismo, que nos faz vislumbrar o passado, com a intenção de aprimorar passos futuros.
Afinal, tudo é empírico, ao que parece...
Tudo vem das experiências vividas intensamente, dos prazeres e consternações passadas.

Lembrei de quando, aos meus 4 anos, fui à um programa de televisão, apresentado pela minha loira favorita da época. Sentei-me em seu colo, participei de brincadeiras, fui carregada no colo, por um dos assistentes de palco, e brinquei como qualquer criança que sonha fazer parte da televisão que vê pelo vidro, todas as tardes.
Hoje, o filho dela, está prestes aos 4 anos, o garoto que me carregou é um ator muito bom e um galã daqueles de arrancar suspiros, mesmo que não esteja em foco na mídia atual.

As novelas, que eram prazerosamente assistidas, na casa da madrinha tão querida, que sempre tinha a pipoca e o leite condensado pra adocicar nossas tardes. O primo das confidências, a prima que era quase minha mãe, numa versão mais infantil, mais imatura, mas deliciosamente farrista.
Hoje, a casa da madrinha já não é tão próxima, as novelas não são mais assistidas – e por isso, não há pipocas ou leite condensado, muito menos a junção perfeita que fazia parte daquele ritual. Ele, confidenciou seus sentimentos, confiou na criança como pessoa que não tem idade certa, e sua admiração por mim, me orgulha muito: faz querer ser alguém melhor todo instante iminente. Ela, hoje é mãe, numa versão madura, abençoada, moderna, mas infelizmente distante da minha rotina – Só posso passar pra vê-la, quando não há aulas importantes na faculdade, ou quando saio mais cedo do trabalho.

Não só nesses dois pequenos casos, mas vi que é delicioso crescer, claro, desde que tenhamos o saudosismo saudável que uma infância proveitosa oferece.

Que nossa memória faça de nós, um diário vivo, que ateste a existência deste amor, que existe fé, existe encanto desde o beijo na testa até as brincadeiras na rua de cima.
E só o que temos por lição de casa, é... (suspiro)
Não deixar se apagar o brilho, pra que o conto de fadas reinicie quando menos se esperar.

Ah, essa Dona Felicidade...


[Lua lá no céu, Queijo pão de mel / Na ponta do pincel, / Mostra no papel aonde encontrar / A tal da dona felicidade / Perguntei pro céu / Perguntei pro mar, pro mágico chinês / Mas parece ninguem sabe, aonde a felicidade / Resolveu de vez morar / Até que um anjo me disse, que ela existe / Que é tão fácil encontrar / Bem lá no fundo do peito o amor é feito / É só você se entregar / E você vai ser muito feliz, É só na vida acreditar / E você vai ser muito feliz, / É só na vida acreditar / Lua lá no céu... / Lálálálálálálálálá / Lálálálálálálálálá... ]

- Tuma do Balão Mágico -

16 de outubro de 2007

Sinais de Fogo

Ouvi dizer que beber é preciso.
Beber como o pobre, pra ficar podre, padecer por opção.
Ouvi que não devo me levar tão a sério, que sinais de fogo estão espalhados pelos meus critérios, que não tenho vocação pra trabalho bruto - apesar de bruta.

Quis meus mistérios, saldei os custos.
Quis as ilusões. Plantadas na expectativa de ontem, colhidas na frustração do amanhã.
Parei na contramão dos meus desejos, loucuras, devaneios...
Dos meus contos-de-fada, das minhas premissas, peripécias.

Estou decepcionada, desiludida, frustrada.
- Perguntando se é justo criar personagens perfeitos pra encantar as pessoas, usufruindo dos rabiscos e desejos preconizados dela, sem seu consentimento.
Misturar gostos aos meus gostos, me ensinar.
Colocar doce na boca da criança, mostrar que é bom, e depois tirar.
Não acho certo. Não acho justo. Quero mudar.
...Então pra que se esconder?
Você deve saber o quanto me ama...
Que distância vai guardar nossa saudade?
Que lugar vou te encontrar de novo?
Fazer sinais de fogo
Pra você me vê

Quando eu te vi e te conheci, não quis acreditar na solidão,
E nem demais em nós dois,
Pra não encarar...


...E não adiantou.
- Porque eu olho pra fora e vejo você em todos os carros iguais ao seu, em todas as suas roupas e gostos iguais, em todos seus egoísmos iguais. Por quê?



[Aula de hoje: Kant e sua liberdade moral radical.]

12 de outubro de 2007

Bucaneira Dill

Peter Pan, o garoto que jamais crescerá.
Wendy Darling, a menina que vale mais que vinte mundos.
A dicotomia estabelecida é o que me move, e o que me faz acreditar.
No conto-de-fadas, na vida real.

Fadas, Sereias, Piratas. Meninos Perdidos...
Porque ser criança é possuir aquela doce espontaneidade - não inocência, necessariamente; algo que todos apostamos preservar para sobrevivermos depois que se acaba a magia. Os assombros das responsabilidades que pertencem ao mundo dos adultos são desnecessários para acreditar que para voar, bastam pensamentos felizes.
É óbvio: O que preocupa um adulto jamais perturbará uma criança.
No mundo delas, existe a privação das burocracias, que do outro lado fazem-se plenamente necessárias.

Há o tempo. O constante Tic-Tac que tanto perturba James Hook.
Há quem pergunte o que seria seu futuro se você apenas tivesse mais 2 segundos.
- O tufão de sentidos, a intensidade dos acontecimentos, o desprezo, a primeira impressão da indiferença, o contato vil da decepção?
Talvez...

Wendy, de meninices e madurezas, que possui um beijo escondido no canto direito da boca, de sorriso convidativo e lábios sutilmente rosados. Um beijo de dono certo: à ele está guardada a maior e melhor sensação de todas - Experimentará o paraíso que é concedido pelo olhar, pelo sentir. Tudo é mágica, e tudo pode encantar.
Seria um beijo para a maior aventura de suas vidas...

Pan, que teve incontáveis alegrias que outras crianças jamais terão, e que então observava, de fora da janela, a única alegria da qual fora para sempre excluído, onde Viver seria uma incrível aventura.

Ela, dada a intensidades, convicções, encantamentos.
Ele, corajoso, mas temeroso do risco, da entrega.
O amor espontâneo, de arrebatamento sutil, ávido, intenso. De faz-de-contas.
Pan não poderia amar.
Era adulto demais pra ele: constituir família, ir para a escola e depois para o escritório. Melhor era ter pensamentos bons e voar, lutar bravamente contra o Capitão e seus piratas, cuidar dos meninos perdidos, e não ter que se envolver com complexidades, já que crescer é um empreendimento bárbaro, mas cheio de inconveniências e espinhas - já avisara o velho adulto amargurado, por detrás daquele gancho.

Poderia Wendy, se tornar uma criança para o resto da vida, e jamais ter que se apaixonar, ou lavar os pratos depois do jantar. Seria uma vida de aventuras, uma vida constituída de brincadeiras, nada de culpabilidade. Viveriam de contar histórias. Mas, ser mãe daqueles Meninos Perdidos, já era aprender a viver. Simulação e faz-de-conta são complementares, ambos nos impulsionam de alguma maneira.
Se apaixonar por Peter Pan, seria um amadurecimento que ela não estava preparada pra viver... E, embora amores não tenham fim, sejam para a vida toda, há variações de intensidade, e isto reflete por toda uma vida, quer queira, quer não.

E quanto a brincar de ser adulto?
Um convite daqueles olhos azuis, e rubros de cólera: Bem vinda à Pirataria!
Ser a única pirata à bordo do Jolly Roger implicava em aprender a viver.
E viver não é para aqueles que possuem um mundo de faz-de-conta.
O que pensaria mamãe a visse como a Bulcaneira Dill?

Quanto mais Wendy tentava ter em mente seu mundo real, mais difícil ficava se desprender de um mundo de mágica, fantasias e mistérios que sua vida ao lado de Peter oferecia.

Wendy foi fada por um momento.
Fadas não são seres ruins, mas dada a pequeneza, só podem sentir um sentimento de cada vez. São bravas e capazes de dar seu brilho, em prol da lealdade que cultivam.

Mas e o mundo real? E a Naná - A melhor babá de 4 patas já vista, a Mamãe e o Papai?
O mundo que os esperava para crescerem, e ir, assim, esclarecendo o que era a vida...
Tudo devia fazer mais sentido à partir do momento que se cresce!
... e medo não deveria correr em veias pueris. Onde estaria a coragem, então?

Ora, existem vários tipos de coragem!
Um deles é deixar de sonhar por alguém.
Coragem para se deixar sentir o que se sente.
Coragem para banir amigos indesejáveis.
Coragem para ser autêntico e não deixar de seus conceitos por amar alguém.
Coragem para assumir seus feitos.
Coragem para viver, amar, sorrir, e conjugar os verbos no imperativo!

Todos merecem uma segunda chance e Pan soube aproveitar aquela que lhe foi concedida. Teve a coragem de não te pensamentos tristes, de não deixar que eles o ferissem e assim, o impedisse de voar... Teve coragem de enfrentar o Capitão Gancho por mais uma vez, e apenas deixar que seus próprios sentimentos traçassem seu destino.
- Malícia, Ciúme e Decepção, faziam parte do veneno sem antídoto que Gancho possuía sempre consigo, pra evitar que fosse capturado. Por isso diz-se morrer pelo próprio veneno, supõem-se.

Arriscar deve valer os riscos, mas pra isso é necessário vendar os olhos e caminhar na prancha – se entregar. Deve haver valoração, maturidade, faculdade.

E é por isso que meu conto-de-fadas talvez não tenha fim.
Jamais encontrei os personagens certos para minhas aventuras.
Jamais me permiti que houvesse entrega sem consciência.
Jamais me permiti errar por errar, ciente disto.

Talvez, o que eu precise, seja não acreditar e me perder.
Num dos mundos à caminho daquela Terra do Nunca.

8 de outubro de 2007

Rainha de Espadas.

Sentada à esquerda do Rei, com a coroa menor e mais trabalhada em essência.
Manto sagrado de forração púrpura, para denunciar a nobreza de espírito.
Rosto sem maquilagem, mostrando transparência de ideais.
Na mão direita, uma rosa; na esquerda, a espada.

Feminina e delicada. Forte e de fibra.
De meninices e responsabilidades, com os papéis, com as crianças.
De beleza incondicional, mas plenamente desprezível: a euforia toma conta, e então a leveza do suntuoso, vira usualidade.
De raciocínio lento e minucioso.
Tem voz aveludada e estridente, vocação para magia, gosto pelo lado de lá.
Comedida no todo, perspicaz nos detalhes.
Dada impulsividade, realeza, musicalidade.

Tem súditos voluntários. Respeito, integridade e lealdade para conquistar aos demais.
É soberana em seu castelo, e só mais uma na multidão.
Cientificista, pintora, lirista, poetisa, adoradora.

A Rainha é ambidestra, é maiúscula.
De sentidos, cores e frutos.
Mundos e desumanidades.

Crê no inacreditável, confia quando não há fé.
Observa o impossível, e fundamenta ideais da constante negativa.
É serva do rei. É soberana, é conselheira, é governante.
É o lado esquerdo: o caminho, a escolha, a crença, a dor. A honra.

Transparência, sensibilidade.
Cúmplice do crime. Armadora do Golpe de Estado.
Monarca parlamentar. Pacifista dada às polêmicas.

Louca e sóbria.
Soberba e precisa.
Faceta e ríspida.

Mas é Rainha. E majestosa, rainha.
E exige respeito tridimensional e completo.
E exige destreza, racionalização prática, perfeição.
E balança o berço, e rege os mundos...


[Post it: "Peter Pan teve incontáveis alegrias que outras crianças jamais terão, mas ele observava a única alegria da qual fora para sempre excluído... Viver seria uma incrível aventura!" ]
- O próximo post é só dele e da minha paixão!