Ciclo

O amadurecimento permite visões maravilhosas.
Se ontem eu via de um jeito, os olhos de hoje apuram os detalhes, elucidam as minúcias, e permitem a expansão de horizontes.
Se ontem eu via as amizades de colégio eram o elo mais forte que se podia existir, hoje é nítido que a não-obrigação do seu cultivo, a graça de cada riso crescendo, a vivência de cada etapa da vida, são o tempero que vida tem de mais gostoso.
Antes havia o correr atrás daquela paixão, escolher todas as palavras e dizer apenas o tímido “Oi” e sorrir quando o garoto mais bonito passava pelo corredor. Ser a garota da vez é diferente, massageia o ego, e mostra que a fase do patinho feio finalmente teve fim, e a cada piscar de olhos, as possibilidades vêm à tona...
Olhar as crianças andando nas ruas, já tem outro sentido:

- Consigo vagamente me enxergar mãe... Ou talvez não.
Apreciar as letras das músicas antigas, colocar pra tocar no carro a rádio que a nova geração odeia, e ler livros com mais de 300 páginas que não sejam romances, são indícios de que as coisas mudam e quase não são perceptíveis, elas apenas acontecem à medida que o mundo gira.
E, em contrapartida, faltou aquela conversa com a pessoa querida, que o tempo simplesmente não cooperou pra que estivesse por perto todo o tempo, faltou aquela experiência, faltou escolher melhor muitas coisas.

Sobrou inércia...Mas faz parte do contexto, e não é nada para se arrepender.

É só reconstituir os elos, escolher mais e melhor, adaptar-se, evoluir, e continuar brincando de encantar.